terça-feira, 17 de junho de 2008

De herói a vilão



Nada é fácil no Corinthians. Quem aceita ser torcedor, dirigente ou mesmo jogador do clube tem que conviver com a pressão vinda de todos os lados. Uma certa vez, Sócrates, o Doutor da bola, declarou que o cidadão que não é corintiano é, automaticamente, anti-corinthians. O doutor realmente sabe das coisas.

Felipe chegou ao Corinthians para a disputa do Campeonato brasileiro de 2007, num campeonato maldito, que a fiel deseja esquecer no canto mais fundo da vergonha e da tristeza. O time mosqueteiro que disputou o nacional de 2007 em muito desonrou o passado de glórias, raça e garra que tão fortemente é associado a equipe do Parque São Jorge desde há muito.

Dentre o bando de pernas de pau, destacava-se um ídolo gritado pela torcida aos berros em cada partida: Felipe. São muitos os “milagres” proporcionados pelo arqueiro Corintiano entre 2007 e 2008. É inesquecível a sua determinação de atravessar o campo e ir em direção ao gol do Atlético-PR no Pacaembu enquanto a equipe alvinegra perdia pelo placar de 2x1. Quase que sua cabeçada atinge o ângulo do time paranaense e empatou a partida. Outro lance memorável, inesquecível, foi o pênalti defendido contra o Goiás, na casa do time adversário, onde todo ponto conquistado pela fraca equipe corintiana deveria ser celebrado como um gol em Copa do Mundo. E o pênalti de Paulo Baier defendido por Felipe foi comemorado tal qual a vitória num campeonato de grande notoriedade.

Nesse ínterim, de lágriams, forte emoções, sorrisos e decepções, talvez, Felipe tenha se tornado corintiano. Talvez o mesmo tenha se identificado com a causa Corinthians. Principalmente a causa de uma torcida. Torcida que, aliás, no caso da Fiel é uma relação estabelecida com o time que envolve amor e esperança. Não é um time que tem uma torcida. É uma torcida que tem um time.Contra isso, há uma união de torcidas rivais, adversários, que mesmo rivais entre si, se unem por uma causa: torcer pelo contrário ao Corinthians, ou secar o time, como se diz na gíria popular.

Porém, tudo que foi um dia.... não será jamais. Não há amor que também não envolva ódio. Não há sofrer que, no fundo, não gere uma pontinha de prazer. Essa ambigüidade de senimentos move a torcida corintiana como também move os sentimentos envolvidos nas relação humanas. Felipe salvou. Felipe honrou. Felipe lutou. Mas como bom ser humano.... Felipe falhou!!!!!

Mas oras, isso não é algo que poderia ser relevado? Afinal de contas, o cidadão que faz o que Felipe fez, não merece um crédito de confiança, logo, uma reconsideração por tudo? Porém, ao falhar contra o Sport Recife, na final da Copa do Brasil, no último dia 11/06, o arqueiro pode ter se despedido da equipe do Parque São Jorge. O clima entre Felipe e a Fiel estremeceu, e os muros pichados do Parque São Jorge, na manhã seguinte, chamavam Felipe de vilão. Sem dúvida, Felipe não é o único culpado. O mesmo time que está embalado na Série B, é o mesmo que na partida decisiva em Recife, não encontrou forças para atingir o gol rival uma única vez. Um único gol faria da Copa do Brasil de 2008 um título alvinegro. Mas sempre, em todas as atividades no Brasil, haverá sempre a necessidade de se encontrar um bode expiatório.Acabou sendo o Felipe.

Mas talvez isso mude. Talvez ele volte a ser titular, posição que lhe é de direito, algo que deve ser afirmado, reconhecendo que o arqueiro Júlio César, bom jogador, também tem totais condições de vestir o manto alvinegro. Ou talvez, Felipe se despeça do Parque São Jorge, melancolicamente, tal qual Rivelino o fez após perder o título paulista de 1974 contra o Palmeiras, no ano em que o Timão completava 20 anos de jejum de títulos. O Reizinho do parque, o maior ídolo do Corinthians em todos os tempos, jamais conseguiu levantar um título com a camisa alvinegra e se sente frustrado por isso. Felipe, se acabar por partir agora, também encerra o seu ciclo sem levantar uma taça. Mas algo do Corinthians permanece com Felipe. E algo de Felipe permanece no Parque São Jorge. Injusto um craque sair assim: derrotado e sem títulos. Injusto! Como tudo na vida e, também, no futebol.

Nenhum comentário: